A flauta é uma ideia inata da humanidade. Já na pré-História, os seres humanos primitivos descobriram a magia dos sons produzidos pelos tubos que encontravam na natureza (bambus, canas e ossos). Logo, essa descoberta acompanhou a evolução da sociedade, sendo empregada em antigas civilizações, e foi aprimorada até chegar aos resultados atuais.
Na Europa antiga, se tocavam vários tipos de flautas, como a flauta pan, a aulo (flauta dupla), a czákan, a flauta provençal e a tin whistle. Junto a estas, e talvez por causa delas, surgiram na Idade Média as primeiras flautas doces, feitas de madeira torneada. O instrumento tornou-se popular no Norte do continente, caindo no gosto popular.
A flauta doce começou a ganhar variedades. Conforme a usança medieval, convencionou-se elaborar consorts (conjuntos) de flautas doces afinadas em intervalos de quarta, quinta e oitava justas em relação umas às outras. Esta configuração é adotada na atual família de flautas doces.
No período medieval, as flautas doces eram confeccionadas em tubos de madeira lisa. Estes modelos foram comuns no Renascimento (séculos XV e XVI), sendo aprimorados na Itália. Nesta mesma época, passou-se a empregar diversos tipos e afinações de flautas doces, e muitos compositores se dedicaram a elas.
O auge da flauta doce se deu no período Barroco (séculos XVII e XVIII), onde seu design tornou-se elaborado com anéis. Além disso, nos modelos renascentistas, as flautas não possuíam furos duplos, e o pé da flauta costumava possuir dois furos, um para canhotos, e outro para destros. O furo que não fosse usado era vedado com cera. No Barroco, as flautas doces passaram a ser fabricadas com pé removível, de modo a girar a peça no tubo, para adaptá-la ao dedo do tocador. Surgiram aí também os furos duplos, para trazer consistência aos semitons graves do instrumento, e a flauta doce passou a ter, pois, três peças de montagem.
O repertório da flauta doce possui diversos compositores do Renascimento. Jacob van Eyck (1590? - 1657) nos trouxe a Der Flüyten Lust-hof I e Der Flüyten Lust-hof II, com 144 peças para flauta doce soprano - a maior obra musical solo do mundo.
Outro compositor que contribuiu à flauta doce foi Tielman Susato (1510? - 1570?), com sua obra La Danserye, com sessenta melodias para quarteto.
Já no Barroco, a flauta doce foi agraciada com as sonatas de Georg Phillip Telemann (1681 - 1767), concertos de Georg Friedrich Haendel (1685 - 1759) e trio-sonatas de Antonio Lucio Vivaldi (1678 - 1741).
A flauta doce caiu em desuso a partir do século XIX, pois que os musicistas passaram a preferir os instrumentos mais dinâmicos que iam sendo desenvolvidos. Nosso querido instrumento veio a ser reavivado no início do século XX, na Inglaterra. Na América, encontrou consonância com as flautas dos nativos indígenas, bem como no Leste Asiático, onde hoje estão as maiores fabricantes.
Hoje, a flauta doce costuma ser utilizada como instrumento de musicalização (ensino de Música) e de passagem para outros instrumentos. Isso se dá graças à sua portabilidade, e, em geral, preço acessível à maioria. A flauta doce também é muito adequada a crianças, pelo tamanho que bem se adapta às pequenas mãos. Contudo, existem no Brasil e no mundo muitos tocadores profissionais (chamados dulcistas), que executam em solo ou em grupo. Seja por hobby, em casa, em uma orquestra ou na Internet, toda pessoa que toque a flauta doce tem em mãos um dos melhores instrumentos já criados!
Curiosidades:
A flauta doce, em Portugal, é chamada flauta de bisel.
Flauta doce, em inglês, diz-se recorder (lembrar, gravar - supostamente por lembrar o canto dos pássaros).
As flautas doces, embora instrumentos de sopro e madeira, atualmente são mais comumente fabricadas em resina acrilonitrila butadieno estireno (ABS), um derivado do petróleo empregado na confecção de tubos.
Atualmente, existem dois sistemas de digitações mais comuns à flauta doce: o barroco (dedilhados em forquilha, sobretudo nas notas fá e si bemol) e o germânico (dedilhados mais intuitivos).
Afinal, quem inventou a flauta doce? Na verdade, não se sabe. Ela é um instrumento de origem popular; as primeiras peças eram copiadas umas das outras de forma artesanal, e, com o passar dos séculos, chegou à configuração que tem hoje.
Hoje em dia, é comum o termo dulcista, para designar um tocador ou tocadora de flauta doce. O termo flautista se reservaria a tocadores de flauta transversal. O que você acha?
Imagens das flautas doces: acervo pessoal.